foto: por SPC
O volume de consumidores brasileiros com contas em atraso e registrados em lista de devedores voltou a crescer no último mês de maio, mas desacelerou frente os meses anteriores. De acordo com dados apurados pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a quantidade de inadimplentes cresceu 2,78% no mês de maio na comparação com igual mês do ano passado. A taxa é menor do que se comparada aos meses de março e abril de 2018, quando houve uma alta de 3,13% e 3,54%, respectivamente. Em números absolutos, estima-se que aproximadamente 63,29 milhões de brasileiros estejam com o CPF restrito para fazer compras a prazo ou contratar crédito.
Na avaliação do presidente da CNDL, José Cesar da Costa, apesar de a recessão ter chegado ao seu fim, a inadimplência do consumidor continua elevada, pois a recuperação econômica segue lenta e não se refletiu em melhora inequívoca no dia a dia dos consumidores. “Por mais que o país tenha superado a recessão, o mercado de trabalho continua desaquecido, os juros cobrados do consumidor ainda não caíram no mesmo ritmo da Selic e a perda de renda real dos últimos anos ainda não foi recuperada. Com a retomada do ambiente econômico acontecendo de forma gradual, ainda demorará para termos um aumento expressivo do número de empregos e renda, fatores que impactam de forma positiva tanto no pagamento de pendências quanto na propensão ao consumo das famílias”, analisa o presidente.
Sudeste lidera alta da inadimplência em maio, com avanço de 8,07%
O aumento da inadimplência foi puxado, principalmente, pela região Sudeste, cuja alta observada em maio foi de 8,07%. Nas demais regiões, as altas foram mais modestas como 2,95% no Nordeste; 2,27% no Centro-Oeste; 1,55% no Norte e 1,08% no Sul. O crescimento maior na região Sudeste é explicado, em parte, pela revogação da chamada ‘Lei do AR’ no Estado de São Paulo, que exigia por parte dos credores uma carta com aviso de recebimento para poder negativar quem atrasa pagamentos. “Como esse processo era mais custoso e burocrático do que enviar uma carta simples via Correios, muitos desses empresários estavam deixando de negativar inadimplentes. Com a derrubada da lei, as negativações que não haviam sido devidamente registradas entraram na base de dados de forma mais abrupta, forçando um crescimento maior da inadimplência nessa região”, analisa a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
De acordo com a estimativa, além de ter apresentado o maior crescimento da inadimplência em maio, o Sudeste é, em termos absolutos, a região com o maior número de negativados: 26,94 milhões de pessoas estão nessas condições por não terem quitado suas contas, o que representa 41% da população adulta residente na região.
Em seguida aparecem o Nordeste, que conta com 17,45 milhões de negativados, ou 43% da população adulta; o Sul, com 8,15 milhões de inadimplentes (36% da população adulta); o Norte, com 5,80 milhões de devedores (48% – o maior percentual entre as regiões) e o Centro-Oeste, com um total de 4,94 milhões de inadimplentes (42% da população).
Brasil tem quase 18 milhões de brasileiros inadimplentes na faixa dos 30 anos; idosos acima dos 65 anos formam 5,4 milhões de negativados
O indicador também revela que a maior parte dos inadimplentes está concentrada entre os brasileiros com idade de 30 a 39 anos: são 17,9 milhões de consumidores nessa situação. Na sequência, estão os consumidores de 40 a 49 anos, que somam uma população de 14 milhões de inadimplentes; as pessoas de 25 a 29 anos, que juntas formam 7,9 milhões de negativados e, os de idade mais avançada, compreendidos na faixa dos 65 a 84 anos de idade, que somam 5,4 milhões de pessoas com contas em atraso. A população mais jovem, que vai de 18 aos 24 anos, formam um contingente de 4,8 milhões de negativados, o que representa 20% dos brasileiros nessa faixa.
“A faixa etária dos 30 anos é uma fase da vida em que as pessoas recebem muitas atribuições financeiras, que se não bem administradas podem levar à inadimplência. É um momento em que muitos casam, têm filhos e conquistam um emprego melhor. Já a inadimplência elevada entre os mais velhos é explicada, em parte, pela permanência maior dessas pessoas no mercado de trabalho. Trata-se, também, de um momento em que as pessoas têm gastos mais elevados com saúde, por exemplo”, explica a economista Marcela Kawauti.
Volume de dívidas cai -0,20% em maio; dívidas bancárias tem crescimento mais expressivo que os demais tipos
Outro número calculado pelo SPC Brasil e pela CNDL foi o volume de dívidas em nome de pessoas físicas. Nesse caso, a inadimplência recuou -0,20% em maio na comparação com igual mês do ano passado. Na comparação mensal, isto é, entre abril e maio, o crescimento foi de 0,90%.
Os dados abertos por setor credor mostram que o crescimento mais expressivo foi das dívidas bancárias, que incluem cartão de crédito, cheque especial, empréstimos, financiamentos e seguros, cuja alta foi de 6,42%. Também houve alta nas contas atrasadas com empresas do setor de comunicação, como telefonia, internet e TV por assinatura (5,14%). Já as compras realizadas no crediário no comércio e as contas de serviços básicos, como água e luz, apresentaram queda na quantidade de atrasos, com recuos de 9,49% e 4,79%, respectivamente.
Metodologia
O indicador de inadimplência do consumidor sumariza todas as informações disponíveis nas bases de dados às quais o SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) têm acesso. As informações disponíveis referem-se a capitais e interior das 27 unidades da federação. A estimativa do número de inadimplentes apresenta erro aproximado de 4 p.p., a um intervalo de confiança de 95%.